FESTA DO EMIGRANTE E DE FOLCLORE
Escreve: Carlos de Oliveira Silvestre
As pessoas da Gralheira, emigradas na Suíça, vêm fazendo, de alguns anos a esta parte, a festa do emigrante, no mês de Maio, altura em que estão de férias para rever familiares e amigos e matar saudades. Animados por esse sentimento de saudade e bairrismo, mais uma vez fizeram a sua festa nos dias 11, 12 e 13 do corrente mês, com diversas actividades. Torneio de futebol de cinco e tiro aos pratos, entre outras. Para animar as frias noitadas, três conjuntos.
No domingo, da parte de manhã, festa à Senhora da Guia, com missa solene, cantada pelo Grupo Coral da Gralheira, seguida de procissão, até à cruz evocativa da Senhora, animada pela Banda de Ferreiros. Da parte de tarde, cortejo etnográfico e festival de folclore. Do cortejo faziam parte cinco ranchos; nove juntas de vacas com os respectivos carros carregados com coisas diversas, relacionadas com as actividades agrícolas da terra; dois cavalos, transportando no dorso carvão e batatas, a representar carvoeiros e almocreves de outros tempos; e um rebanho de gado, com o seu pastor, evocando os pastores da Serra de Montemuro.
O tempo esteve mau, com chuvadas, gélidas, de vez em quando. Mas, mesmo assim, um mar de gente subiu até à Gralheira, atraída pela beleza da etnografia e do folclore. Foram estas músicas que, em criança, cantaram pelos montes e vales, quando guardavam vacas e rebanhos. Foi ao som destas cantigas, repassadas de poesia ingénua e frescura aldeã, a cheirar a tojo e carqueja, que tantas vezes adormecemos, cantadas por nossas mães e avós, quando embalavam o nosso berço de criança! Não admira, portanto, que o folclore atraia tanta gente, porque é nele que mergulham as nossas raízes.
Ainda o dia da festa de folclore estava longe, já não se falava de outra coisa, já se notava um entusiasmo fervente em toda a gente da Gralheira. Os lavradores preparavam as carradas que iriam levar; o almocreve e o carvoeiro, os arreios para os cavalos, sem esquecer o arrocho e o chicote. O carvoeiro foi arrancar as tocas de urgueira para fazer o carvão e encher três sacas para a carga. Todos mobilizados para um fim comum; cortejo etnográfico e festival de folclore, integrados na festa do emigrante.
Durante o desfile a chuva caiu, mas nada que fizesse desanimar ou desistir as pessoas. Apesar do mau tempo foi bonito ver e ouvir nove carros de tracção animal, com carradas diversas, intercalados por cinco ranchos folclóricos, onde o som das tocatas se misturava e confundia com o chiar dos carros e as campainhas do gado.
Tomaram parte nesta festa de folclore os ranchos do Catujal - Loures; Piares - Penha Longa - Marco de Canaveses; S. Martinho de Fornelos -Cinfães; Cantas e Cramóis de Pias -Cinfães; e o da Gralheira. Todos se exibiram a bom nível, pelo que aqui fica o nosso agradecimento.
Queremos também agradecer aos lavradores da Gralheira a prontidão e disponibilidade com que acederam ao nosso convite e à maneira gratuita como participaram, com seus carros e animais.
Quero ainda felicitar os emigrantes por mais esta bonita festa e agradecer-lhes, do fundo do coração, a homenagem que quiseram prestar-me, por algo que tenha feito em favor da nossa aldeia. Já recebi várias medalhas, prémios e condecorações de entidades públicas e até de particulares, mas esta homenagem, este bonito quadro que me oferecesteis tem, para mim, muito mais valor, porque vem do povo, deste povo a que pertenço. Mas a maior homenagem que me podereis fazer é dardes continuidade à obra que iniciei, porque tudo o que eu fiz foi muito pouco, em relação ao que desejava fazer, aos meus sonhos e anseios. Procurai elevar, social e culturalmente, a nossa terra e eu partirei em paz e feliz.
Quero agradecer também ao amigo
Ilídio, o seu lindo poema.
Gralheira, 16/05/2007 Ecos da Gralheira, Jornal “Miradouro” Nº 1608 e 1609 II Série, 8 e 15 de Junho de 2007
|