Como foi o Verão que agora findou?
Em termos climáticos, pode dizer-se que não houve verão. A chuva e o frio apoderaram-se da maior parte dos dias de Julho e Agosto. A prová-lo estão as culturas do milho e feijão, que tardam em amadurecer. As uvas de uma ramada, que cobre a entrada da minha casa, ainda não têm pintor. Veremos como se comporta o Outono, que agora entrou.
Em termos culturais e recreativos, a Gralheira manteve uma actividade semelhante à de anos anteriores. Depois do Maio cultural, com a festa do emigrante, cortejo etnográfico, festival de folclore, festa a Nossa Senhora da Guia, feira anual e lutas de bois, houve, em Junho, o já habitual passeio em autocarro, durante dois dias, desta vez ao Minho e Trás-os-Montes e uma peregrinação à Nossa Senhora da Lapa. Seguiu-se o passeio/convívio ao cimo da serra, em 14 de Junho. Local do encontro: Laja Gorda. Uns a pé, outros de carro, (mais de 100 pessoas) passaram o dia na montanha.
Com a abertura das estradas dos parques eólicos, que rasgaram o dorso do Montemuro em várias direcções, já é possível aos mais idosos e deficientes subirem até lá e verem, de novo, os lugares onde passaram tantos dias da sua infância e mocidade no pastoreio dos rebanhos ou nas tarefas do cultivo do centeio. E agora, é vê-los recordar cada recanto da serra e contar, de olhos húmidos, as histórias de bailaricos e folguedos, que por lá passaram também! Em Junho, a serra veste o seu mais lindo fato de gala e naquele dia parecia estar no auge da sua beleza! A verdura luxuriante contrastava com o florido das carquejas, dos sargaços, das queirós, das urzes e de um sem número de flores de outras tantas plantas anónimas, que despontam entre o mato florido!
Foi neste ambiente sublime e perfumado, que as pessoas subiram a serra e se deleitaram com tanta beleza e graça. Chegados a Laja Gorda, fizeram fogueiras, assaram as carnes, comeram, beberam e descansaram à sombra das enormes penedias. Depois, foi o jogo de futebol e o bailarico, até às 18 horas. Seguiu-se a merenda e a viagem de regresso. Saíram juntos, mas, em breve, o grupo fraccionou-se. Os dos garrafões, com paragens obrigatórias, foram ficando para trás. Aquele tapete imenso, de verdura e flores, convidava a deitarem-se sobre ele e muitos o fizeram, uns, por vontade própria, outros, porque a cabeça já pesava muito. Quando os últimos chegaram ao povoado, já o sol tinha desaparecido, há muito tempo, do horizonte.
Em 26 de Julho, novo convívio, nas lameiras da Feiteira, nas margens do Cabrum. É já o terceiro que ali se faz, entre as pessoas da Gralheira e os amigos de Moreira da Maia. Da parte de manhã, jogo de futebol; depois o almoço. Um porco foi assado no espeto e grandes panelas ferviam a todo gás, na cozedura da feijoada e do arroz, que serviram de ementa para o almoço, acompanhados com vitela assada.
Depois de um ligeiro repouso, seguiu-se o bailarico, animado pela tocata do Grupo Etnográfico da Gralheira. Cantou-se e dançou-se até à tardinha, com as mulheres a cantarem ao desafio com os homens. Depois, foi a merenda. Lá estava o porco coradinho, bem assado, que deu para saciar toda aquela multidão e ficar ainda com o esqueleto bem revestido de carne. Pensaram, então, deixá-lo ali, para no dia seguinte continuarem o banquete; só que ao outro dia, apenas encantaram espinhaço. Os cães, durante a noite, tomaram conta dele.
Em dois e três de Agosto, realizou-se a festa da Padroeira, Nossa Senhora da Graça. A noitada foi animada por um grupo de Barcelos, de muito bom nível. O fogo, também foi do agrado do público, que lhe teceu rasgados elogios.
No domingo realizou-se a festa religiosa: Missa solene e procissão. Cerimónias que decorreram com muito recolhimento, respeito, e devoção. De tarde, foi o arraial, animado pela banda de S. Cipriano "A Velha", encerrando a festa por volta das 20 Horas. Foi uma festa simples, como devem ser as festas das aldeias. Os mordomos estão de parabéns, pelo muito que trabalharam, pelo esforço que fizeram na angariação de fundos, para que o saldo fosse positivo. Assim como todas as pessoas que deram as suas ofertas ou que, de qualquer forma, contribuíram para a sua realização. Esperamos que o bairrismo não morra e que a festa continue.
No dia 9 de Agosto, houve mais uma noitada de festa, desta vez da responsabilidade da Câmara Municipal de Cinfães, que trouxe, até à Gralheira, um grupo com música de discoteca, música barulhenta, que atraiu muitos jovens, mas afastou os de mais idade.
Gralheira, 22 de Setembro de 2008
Carlos de Oliveira Silvestre
Jornal Miradouro Nº1645 terceira série de 21 de Novembro de 2008
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