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Forum Gralheira de Montemuro • Ver Tópico - GRALHEIRA - TERRA, HOMENS E BICHOS

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 Assunto da Mensagem: GRALHEIRA - TERRA, HOMENS E BICHOS
Mensagem não lidaEnviado: 27 jan 2009, 17:25 
"No dia 26 de Setembro de 2007 fui almoçar à Gralheira a convite de um homem da terra. Um homem a quem essa aldeia muito deve e a quem os historiadores, quando se debruçarem sobre a história da «serra, dos homens e dos bichos» saberão estar gratos. Ele é o «poeta da natureza», o amante inquestionável do meio, o divulgador incansável das belezas serranas, mas também das canseiras e dos trabalhos que os «conquistadores» e «povoadores» da serra enfrentaram, ao longo dos tempos, na luta pela sobrevivência


Almoçámos no «Recanto dos Carvalhos». Saboreámos a «posta de vitela» assada no forno e aproveitei para lembrar a transumância que, no século XVI, as vacas do Montemuro faziam para a Gandra, terras baixas de Aveiro e Coimbra, regressando à serra em Maio, quando os pastos já abundavam por aqui. Falei do «gado e carnes» serranas que, no dizer de Rui Fernandes, esse feitor «de lonas e bordates» na cidade de Lamego, dizia terem «vantagem em sabor sobre todas as carnes».

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Passear e conversar com o Senhor CARLOS DE OLIVEIRA SILVESTRE na serra do Montemuro, é um privilégio. É ler um livro dos meados do século XX. É ver os seus protagonistas a fazerem as vessadas nas negras e pesadas terras de regadio. É ver a serra sarapintada de bichos e homens a conquistarem as terras centeeiras, lameiros para pastos e tapadas para lenhas. É ver s veigas verdejantes que bordejam as linhas de água que alimentam o Cabrum, sempre a esgueirar-se para o Douro por entre salgueiros, amieiros e vidoeiros. É ouvir a algazarra da criançada e ver as patifarias próprias da idade. É vê-los rodearem uma panela e lambuzarem-se com «manteiga de vaca» que os pais pensavam oferecer aos donos dos lagares, onde, sazonalmente, iam trabalhar para trazer o azeite que as urgueiras e giestas da zona não produzem. É subir com ele até à Pena, até àquele rochedo enorme sobranceiro à aldeia parar fotografá-lo e contemplá-lo de perto.

Junto deste gigante lítico, com fragmentos milenares espalhados à sua volta como que batatas caídas da carga de descuidado almocreve a rebolarem pela encosta abaixo, eu paro, escuto e olho. Ele não é atalaia nem torre de castelo donde alguma vez tenham saído os gritos de «sentinela alerta» ou de «inimigo à vista». Não é o penedo do Clamadoiro, o pendedo do Ladário, o penedo da Vozeira, como aqueles que existem noutros sítios e povoações da serra. É simplesmente um rochedo natural, propício ao pouso de gralhas em bando, esses pássaros dentirrostros, mais pequenos que os corvos, que, pousando ali, lá faziam estridente gralheira. Rochedo onde só gralhas, corvos, milhafres e peneireiros, vindos do ar, poisam facilmente e deixam sempre pena. E pena tinham os pequenos pastores que, como os outros, a ele não subiam para, ufanos como eles, lá em cima, «cantarem de galo». Tanta pena. Tanta gralha. E, certamente, foi por isso tudo, corvos, gralhas e palco de gralheira, que o tabelião de serviço encarregado de dar nome às coisas, passando por ali, pegou na pena e ao rochedo chamou Pena e à povoação chamou Gralheira.

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O senhor Carlos Silvestre fala da terra, dos bichos e dos homens. Coisas antigas, fora de uso, que a juventude de hoje desconhece inteiramente. Precavido, como que adivinhando a mudança radical dos tempos, dos costumes e dos valores, como que adivinhando o apagamento da vida das gerações inteiras que habitaram a aldeia, ele escreveu livros, ele fez filmes, passou-os a DVD e possui um reportório de informação sobre a Gralheira que, por certo, são poucas as aldeias que se podem orgulhar disso.

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Esta nota de estima e consideração era-lhe devida. Aqui a deixo agradecido pelo trabalho que ele tem desenvolvido, a bem da História. Aqui o felicito pela atenção que mostra à mudança dos tempos, fazendo disso os respectivos registos. Tomara que em cada aldeia do Montemuro houvesse um Carlos Silvestre. "

(Retirado de: "Trilhos Serranos" http://www.trilhos-serranos.com/index.html )

De: Abílio Pereira de Carvalho


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