ASSOCIAÇÃO PARA A DEFESA E DESENVOLVIMENTO DO ALTO DO CONCELHO DE CINFÃES
Durante séculos, a Gralheira fez parte da freguesia e Concelho de Ferreiros. Era um dos quatro curatos que pertenciam àquela freguesia. Gralheira, Alhões, Bustelo, e Ramires. Este concelho era composto apenas por duas freguesias: S. Miguel de Oliveira e S. Pedro de Ferreiros de Tendais. Em meados do século passado, este concelho de Ferreiros foi extinto, com integração no de Cinfães.
Escusado será dizer que para as populações do extinto concelho, as coisas mudaram muito, para pior. Enquanto que para Ferreiros, as pessoas da Gralheira faziam a viagem a pé em duas horas, para Cinfães só em cinco, lá conseguiam chegar! E, quantas vezes, cansados de tão dura e longa viagem, chegavam a Cinfães para tratar de qualquer assunto nas repartições públicas, ou intimados a comparecerem ali, não eram olhados com desprezo, apelidados de serranos e só os atendiam bem, se os zelosos funcionários, a olhar por cima das lunetas, através do postigos, conseguissem adivinhar o salpicão ou peça de caça, no bolso ou saca de amostras. Se o serrano chegava de mãos vazias, nada se podia fazer, tudo estava mal, sem dizerem o quê, e teria que lá ir outro dia. Parece mentira, mas era assim, a triste realidade. Eu fui vítima e testemunha do que acabo de afirmar. A troco de qualquer coisa não se importavam de obrigarem as pessoas a percorrerem mais de cinquenta quilómetros a pé, em vão, muitas vezes debaixo de terríveis tempestades de chuva e neve onde alguns vieram a falecer. E foi perante essa desumanidade gritante, que a gente da Gralheira se apavorava só em lembrar-se que tinha de ir a Cinfães tratar de qualquer assunto. Só assim se compreende e se explica, que os prédios da Gralheira, na sua maioria, estejam por registar. É que a Cinfães só iam quando eram obrigados. E, assim, ao longo dos anos criaram uma imagem negra de Cinfães, que ainda perdura. É certo que hoje as viagens já não se fazem a pé e os funcionários não são os mesmos, mas ainda existem alguns que parecem reger-se pelos ditados de outrora.
Além disso, a parte alta do concelho foi sempre desprezada pelo município. A parte serrana, como lhe chamam, tem pouca gente, poucos votos, pelo que as "benesses", os melhoramentos, as grandes obras, serão sempre feitas na parte baixa do concelho, onde os votos abundam e elegem.
E foi para lutar contra esta desigualdade de direitos e regalias, que nasceu a "Associação para Defesa e Desenvolvimento do alto do Concelho de Cinfães". Por iniciativa do Sr. Dr. Constantino, de Pimeirô, esta Associação teve a sua escritura pública em Maio de 1999, e engloba as freguesias de Alhões, Bustelo, Gralheira, Ferreiros e Ramires. Já foram estabelecidos contactos com membros do Governo e outras entidades, que prometeram apoio. A sua principal função será apoiar as populações destas freguesias, sobretudo nas áreas da saúde e acção social, já que, no caso da Gralheira o Posto Médico fica a 18 quilómetros ... sem transportes públicos.
Esperamos, agora, que a iniciativa desta obra não esmoreça e consiga atingir os objectivos para que foi criada.
Gralheira, 7 de Outubro de 1999
Carlos de Oliveira Silvestre.
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