this ok Sentence
Viagra Generico Cialis Originale Kamagra 100 mg Kamagra Oral Jelly Acquistare Propecia Generico Test Pacchetti Generica Acquistare Viagra Strips Kamagra Oral Jelly Priligy Dapoxetina Generico Viagra Originale Kamagra Fizzy Tabs Acquistare Kamagra Soft Tabs Viagra Originale 100mg Levitra Generico Levitra Originale Acquistare Test Pacchetti originale viagra Levitra Soft Tabs Kamagra Fizzy Tabs Acquistare Viagra Soft Tabs
Forum Gralheira de Montemuro • Ver Tópico - [Prosa] OS CARVOEIROS

Forum Gralheira de Montemuro

www.gralheira.net
Data/Hora: 16 abr 2024, 21:51

Os Horários são TMG [ DST ]




Criar Novo Tópico Responder a este Tópico  [ 1 Mensagem ] 
Autor Mensagem
 Assunto da Mensagem: [Prosa] OS CARVOEIROS
Mensagem não lidaEnviado: 08 dez 2006, 00:06 
Desligado
Site Admin
Avatar do Utilizador

Registado: 04 nov 2006, 11:20
Mensagens: 113
OS CARVOEIROS

Antes de existir a electricidade, o petróleo e o gás, o carvão e a lenha eram quase as únicas fontes de energia e calor que alimentavam e aqueciam as habitações humanas. Durante séculos, milénios, assim foi e pode dizer-se que só no tempo de nossos pais, as coisas se alteraram e, em muitas localidades, só nos nossos dias.
Estão neste caso todas as povoações serranas do Montemuro e de muitas outras, perdidas em locais remotos, nas serras do nosso País. O carvão e a lenha aqueciam as lareiras e faziam ferver as panelas, de ferro, de três pernas, na confecção das refeições. Havia o carvão mineral, a hulha, extraído do subsolo, e o vegetal, saído da urze. Porque o mineral era pouco usado por estas bandas, vamos falar apenas do vegetal, que "medra" nas encostas e planaltos do Montemuro.
Existem duas espécies de urze. Uma de flor cinzenta, de ramos mais compridos e de raízes longas e pouco carnudas. Outra, de flor roxa, mais rasteira e de raiz em forma de nabo. Era desta urze que extraíam o carvão e da qual, os pequenos pastores, faziam bolas para o jogo do nicho, enquanto pastoreavam o gado na serra. Era uma espécie de hóquei em campo.
Para extraírem o carvão da urze - urgueira ou torga - os homens das povoações serranas muniam-se de um picabeque - alvião - para arrancar a urze e cortar-lhe os ramos, aproveitando apenas a raiz. Depois fazim uma grande cova e aí depositavam as raízes arrancadas, sobre alguma lenha seca. Pegavam-lhes o fogo e deixavam arder até que ficasse tudo em brasa. Depois iam tapando, com pedras e torrões, deixando apenas uma pequena abertura, para que a combustão se fizesse lentamente. Ao fim de três, quatro dias, a cova estava totalmente apagada e o carvão pronto a ser retirado.
Os homens que se dedicavam a esta tarefa, eram os chamados carvoeiros da extracção, os que primeiro lidavam com o carvão. Quando todos acendiam as suas covas, a serra vomitava fumo por todo o lado, fazendo lembrar as chaminés das fábricas, nas zonas industriais das grandes cidades. A primeira fase estava concluída, a transformação da raiz da torga em carvão. Depois vinha a segunda fase, a do transporte até à cidade mais próxima, Lamego. Disso se encarregavam os carvoeiros de Penude, com as suas mulas, machos e jumentos.
Depois de comprarem o carvão, metiam-no em grandes sacas de serapilheira, colocavam três no dorso de cada burro e com meia saca às costas, lá iam das Levadas ou do Perneval até Lamego, com paragem na Gralheira, para descansar e comerem. Em dias de bom tempo tudo corria bem. Os cerca de 40 quilómetros, que separavam o Perneval de Lamego, eram percorridos com descontracção e tranquilidade. Mas, quando, no Inverno, eram surpreendidos por terríveis tempestades de chuva, neve e nevoeiro, a situação tornava-se crítica e dramática. Quantas vezes se perderam ao cair da noite, sem conseguirem enxergar o invisível carreiro que os devia conduzir até à povoação da Gralheira. Na escuridão da noite, apenas os relâmpagos lhes davam alguma claridade, em alternância com o ribombar dos trovões e o uivar dos lobos. Nessas circunstâncias, viam-se obrigados a soltar os burritos e eram eles, com o seu instinto mais apurado, que lhes ensinavam o caminho e os traziam até à Gralheira.
Lembro, a propósito, de uma noite de temporal, ter batido à porta da nossa humilde casa, um carvoeiro com o burrito carregado de carvão. As fortes pancadas traduziam bem o que lhe ia na alma. Era em Fevereiro, por alturas do Carnaval. Tínhamos cozido a fornada e à noite havia serão. Estavam presentes todos os familiares, vizinhos e a rapaziada da aldeia, que acorria a todos os serões, onde houvesse moças casadoiras. Quando o homem bateu à porta, ainda se pensou que fossem alguns mascarados, que costumavam visitar as casas onde havia serão. Mas o homem voltou a bater e a pedir que lhe dessem colheita. Então a porta abriu-se e o carvoeiro foi acolhido com a solicitude e carinho que era possível.
O homem, de lágrimas nos olhos, contou a sua triste viagem. Perdera-se na serra e caminhara à sorte, sem saber para onde. Quando viu a luz, da nossa candeia, através da janela, nem queria acreditar que estava salvo. O burrito foi libertado da carga e metido no curral, com feno na manjedoira. Ao homem foram fornecidas roupas enxutas para se mudar e as suas postas a secar, dentro do forno ainda quente.
Depois de comer uma sopa aquecida e um pedaço de bola, deram-lhe umas mantas, para dormir sobre o feno, no palheiro ao lado, por não termos camas disponíveis. No dia seguinte, comeu mais uma malga de caldo e retomou a viagem, deixando, como recompensa, palavras de gratidão e lágrimas de reconhecimento! Muitos outros tiveram igual sorte.
O último carvoeiro a percorrer a serra foi o tio Joaquim Maravilhas, de Penude, que por aqui andou enquanto as forças lho permitiram. Jumenta Ruça à frente, carregada com três sacas que quase lhe encobriam as orelhas, e Joaquim Maravilhas atrás, com meia saca às costas, tamancos ferrados a guilhos nos pés, que faziam grande ruído no lajedo do caminho, em alternância ou sincronia com as ferraduras da Ruça.
Durante muitos anos, esta imagem de carvoeiros e almocreves entrou no quotidiano da gente da Gralheira. Homens e burros faziam parte da paisagem serrana e era frequente ver-se a sua silhueta projectada no horizonte, nas cumeadas e cerros do Montemuro. Eram figuras típicas de toda a serra e muito carvão transportaram para Lamego. Muitas vezes sentiam fome de doer o estômago e então tiravam a merenda aos pequenos pastores, que não ia além de um pedaço de pão.
Estes, para se vingarem, colocavam armadilhas no carreiro, abrindo covas com cerca de 40 centímetros de profundidade e cobertas com ramos de giesta ou urze e uma ligeira camada de terra para disfarçar. Colocavam-se à distância, para ver o resultado da sua armadilha. Os burritos, ao pisar a cova, caíam e o carvoeiro tinha que descarregar o burro, para que se pudesse levantar, enquanto soltava... um rosário de pragas e maldições.
O progresso levou consigo pastores, carvoeiros e almocreves e até o carreiro desapareceu, na densidade do matagal.

Gralheira, 01 de Outubro de 2006.
Carlos de Oliveira Silvestre
"ECOS DE MONTEMURO" Jornal Miradouro Nº 1582 de 08 de Dezembro de 2006


Topo
 Perfil Enviar Mensagem Privada  
 
Mostrar mensagens anteriores:  Ordenar por  
Criar Novo Tópico Responder a este Tópico  [ 1 Mensagem ] 

Os Horários são TMG [ DST ]


Quem está ligado:

Utilizadores a ver este Fórum: Nenhum utilizador registado e 0 visitantes


Criar Tópicos: Proibido
Responder Tópicos: Proibido
Editar Mensagens: Proibido
Apagar Mensagens: Proibido

Ir para:  
cron
Desenvolvido por phpBB® Forum Software © phpBB Group
Traduzido por phpBB Portugal